Ricardo Guimarães: a história da Alpargatas

 

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Fundada em 1907 no distrito paulista da Mooca em São Paulo, a Fabrica Brasileira de Alpargatas e Calçados criou uma das marcas de maior sucesso do mercado nacional, as Havaianas. Um sucesso que rompeu as fronteiras do Brasil e ganhou o mundo, se tornando um ícone da moda e indústria brasileiras. No entanto o presidente do Banco BMG, Ricardo Guimarães, lembra que o fundador da companhia criadora das sandálias que se tornaram um signo da identidade brasileira foi, na verdade, um escocês de origem argentina, Robert Fraser. Dois anos após o nascimento da empresa, em 1909, a então Fábrica Brasileira de Alpargatas e Calçados passou a se chamar São Paulo Alpargatas Company S.A. Já no ano seguinte, em 1910, a empresa abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo, confirma Ricardo Guimarães.

Início da trajetória de sucesso

Na década de 10 do século passado a produção de café no Brasil funcionava a todo vapor e a Alpargatas viu ali uma grande oportunidade de negócios. O grande número de trabalhadores das lavouras de colheita cafeeira precisavam de um calçado resistente e, é claro, de preço acessível. O executivo do BMG, Ricardo Guimarães, lembra que isso foi quando a empresa lançou a Alpargatas Roda, que em pouco tempo alcançou o sucesso desejado e se tornou um dos calçados mais populares do país. Milhares de pares foram vendidos não apenas para os lavradores, mas também para o público em geral. Com baixo preço e alta resistência, a Alpargatas Roda era calçada pelo Brasil. A atenção dispensada a esse nicho do mercado, até então esquecido por outras empresas do setor, dava mostras do espírito visionário da empresa que seria fundamental para superar diversas crises no futuro, cita o presidente do Banco BMG Ricardo Guimarães.

Superação de crises

Pouco tempo após o sucesso inicial, a Alpargatas precisou encarar diversas crises devido a conjunturas internacionais. Em 1914 estourou a Primeira Guerra Mundial, que levou diversas empresas ao redor do mundo a enfrentar graves crises financeiras. A falta de matéria prima, ocasionada pela guerra, também foi um sério problema que a emergente empresa brasileira teve de lidar. O presidente do Banco BMG, Ricardo Guimarães, não se esquece de relatar que, quase concomitantemente à guerra, houve o surto de Gripe Espanhola no Brasil que deixou boa parte dos empregados da Alpargatas debilitados, o que fez com que a empresa ficasse em situação delicada.

Desde o início do Século XX o Brasil enfrentava uma crise econômica devido a superprodução de café, que era voltada em sua grande parte para os mercados externos, principalmente Europa e Estados Unidos – ambos envolvidos na Primeira Guerra Mundial. Ricardo Guimarães, do BMG, lembra que a produção cafeeira nacional era bastante superior ao crescimento do mercado exterior, isso antes da guerra. Com o fim do conflito e os países envolvidos tendo de se recuperar economicamente, o mercado para o café brasileiro se tornou ainda mais escasso. O resultado desse cenário foi que o comércio de café do Brasil nunca mais foi o mesmo. Além do problema econômico interno, ainda houve a quebra da Bolsa de Nova Iorque, que abalou todo o mundo. Com essa sucessão de adversidades a Alpargatas sofreu um de seus mais duros golpes, relembra Ricardo Guimarães do Banco BMG, tendo de encerrar a produção da Alpargatas Roda.

No entanto, mais uma vez a Alpargatas decidiu tomar um rumo diferente das muitas empresas que se viam obrigadas a encerrar suas atividades, graças à crise financeira mundial. Ela decidiu investir! E começou retomando a produção de seu principal produto, a Alpargatas Roda. Além disso, ficou atenta as demandas do mercado brasileiro e preparada para supri-las. Um exemplo dado por Ricardo Guimarães, presidente do Banco BMG, é que durante a conturbada Revolução de 1932 a Alpargatas forneceu aos seus combatentes uniformes, mochilas e barracas.

A decisão da empresa de retomar os investimentos foi fundamental para a recuperação de seu fôlego financeiro e para ajudá-la a encarar outra grave crise no cenário internacional, que afetou o mundo e sua história: a Segunda Guerra Mundial. Contudo, dessa vez a Alpargatas não enfrentou problemas mais sérios, já que sua produção estava voltada para o mercado interno e a empresa estava pronta para investir ainda mais e continuar sua trajetória de sucesso.

Lançamento de novos produtos

Após a superação de diversas crises através de uma administração corajosa e visionária, a Alpargatas decidiu que era hora de criar novos produtos e garantir uma fatia maior do mercado brasileiro. Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, Ricardo Guimarães cita que a empresa se lança no mercado de vestuário com a calça jeans Rodeio. Já na década de 50 a Alpargatas diversifica sua participação no mercado de calçados, que até então contava apenas com a Alpargatas Roda, e começa a produção de dois marcos em sua história: os tênis Bamba Basquete e o tênis Conga. Ambos com excelente aceitação do mercado consumidor. Também nesta época a empresa, baseada em sua experiência de vender barracas para os combatentes da Revolução de 32, coloca no mercado a lona Sempreviva, conta Ricardo Guimarães do BMG.

Na década de 60 a Alpargatas volta seus olhos mais uma vez para os trabalhadores rurais, e lança as botas Sete Léguas feitas totalmente em borracha, que visavam atender não apenas os trabalhadores da agricultura e agropecuária, mas também os operários da construção civil, setor que estava em plena expansão no Brasil. Os investimentos da Alpargatas no mercado de vestuário seguiram com o lançamento das calças de brim Far West.

Neste ponto e com essa gama de produtos, a Alpargatas já se estabelecia como uma empresa consolidada no cenário nacional. Porém, ainda tinha mais por vir.

As Havaianas!

Em 1962 a Alpargatas lança o seu produto mais emblemático, que viria a superar em popularidade até mesmo a Alpargatas Roda, as Havaianas. No início era um chinelo de dedo feito totalmente em borracha, voltado para ser usado dentro de casa ou em saídas rápidas pelo bairro. O baixo preço e o conforto oferecido pelo produto fizeram com que as Havaianas caíssem no gosto popular e se tornassem um enorme sucesso de vendas. Mais uma vez todo o Brasil estava calçando um produto da Alpargatas, lembra o presidente do Banco BMG Ricardo Guimarães.

Durante os vinte anos seguintes as Havaianas se mantiveram imbatíveis no mercado brasileiro de chinelos, sendo calçadas por todos os tipos de público: do operário a socialite. No entanto, na década de 80 as então popularíssimas Havaianas perderam força e mercado, o que fez suas vendas despencarem.

Porém, em 1994 as Havaianas são relançadas no mercado com um novo enfoque, reporta Ricardo Guimarães. Dessa vez não era apenas um calçado funcional para ser usado em casa, ou em passeios pelo bairro, mas um acessório de moda. O solado azul e branco deu lugar a chinelos coloridos, monocromáticos, que eram comercializados em diversas cores: do inteiramente branco ao rosa pink. Modelos diferentes do tradicional chinelo de dedo também foram produzidos. A releitura das Havaianas, aliada a uma forte campanha de marketing, fez a principal marca da Alpargatas retomar sua antiga popularidade.

O sucesso encontrado dentro do Brasil, onde as Havaianas agora eram usadas em lugares chiques, foi ecoado no exterior. Celebridades de todo o mundo estavam usando a marca brasileira, relembra o executivo do BMG, Ricardo Guimarães. Os chinelos que antigamente podiam ser comprados em mercearias, supermercados e vendedores ambulantes, também eram comercializados agora em lojas próprias nos principais shopping centers do Brasil e em diversas cidades ao redor do mundo.

Compra da Alpargatas pela J&F Investimentos

No ano em que a Alpargatas completa exatamente 105 anos de operação na Bolsa de Valores de São Paulo, coisa que é um verdadeiro marco de prosperidade para qualquer empresa, a companhia teve o seu controle acionário assumido pelo grupo J&F Investimentos, numa transação que envolveu 2,67 bilhões de reais, informa Ricardo Guimarães do BMG. Duas marcas pertencentes a Alpargatas, a Topper e a Rainha – ambas voltadas para a produção de artigos esportivos – já haviam sido vendidas anteriormente para o empreendedor Carlos Wizard, por cerca de 50 milhões de reais.

A Osklen, marca de roupas que pertence a Alpargatas, permanecerá sob o controle do grupo e deverá manter seus planos de expansão, que envolvem a inserção de produtos da grife em lojas multimarcas e o início da produção de peças femininas, noticia Ricardo Guimarães, do BMG.

O grupo J&F Investimentos controla o conglomerado JBS, uma das maiores indústrias alimentícias do planeta e detentora da marca de carnes Friboi, comenta Ricardo Guimarães. Apesar de operarem em mercados totalmente diferentes, uma no setor de alimentos e outra no de calçados, a Alpargatas e o JBS possuem histórias semelhantes. Ambas obtiveram grande sucesso na internacionalização de seus produtos e enfoque de suas marcas. Essa similaridade de estratégias usadas pelos dois grupos, leva a crer que o J&F Investimentos será bem-sucedido em dar continuidade ao roteiro de sucesso escrito pela Alpargatas ao longo dos seus mais de cem anos de existência.

O presidente do Banco BMG, Ricardo Guimarães, conta que esta não é a primeira vez que a Alpargatas muda de mãos. Em 1982 o controle da empresa passou a ser da construtora Carmago Corrêa, que era sua principal acionista com 30% das ações até a concretização da venda para a J&F Investimentos. Por sua vez, a Carmago Corrêa deverá se concentrar agora em operar apenas no setor da construção civil e infraestrutura.

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